Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amiga do rei
Lá terei o homem que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou mais feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca da Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Do sogro que eu nunca quis
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansada
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d`água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menina
Vó Helena vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem pessoas bonitas
Para a gente conhecer
E quando eu estiver mais triste
Mas triste do que agora
Quando de noite me der
Vontade de ir embra
Lá sou amiga do rei
Terei o homem que eu quero
Na cama que escolherei
Para Pasáegada vou-me embora.
(versão adaptada para esse blog)
MAS.. O QUE É "PASÁRGADA"?
É o próprio Bandeira quem explica:
“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...].
Nenhum comentário:
Postar um comentário